Carta de despedida
Carta de despedida
A ti, meu pai que partiste nesse 16 de Fevereiro de 1994, 4ª feira de cinzas.
Sei que 22 anos é muito tempo, talvez uma eternidade, todavia insuficiente para pagar os erros que cometi a seu tempo. Nunca te pedi desculpa por saber que certamente não as encontrarias nos meus desvarios, não fosse a minha vida também constituída por incontáveis revoltas ante rasteiras e traições que ficaram por julgar.
Como tu também fiz luto, se bem que sempre vestindo uma pele amorenada. Se viúvo por mais de 4 décadas foi empresa épica, ser órfão toda a vida foi o tributo que paguei por ser filho silencioso, respeitando a dor que coabitava no teu peito, razão bastante por nunca te ter perguntado ou falado na Maria do Carmo.
Que me perdoes mas nasci assim, cresci com o diabo pintado na corpo, e tão vivo que ainda hoje o sinto à flor da pele, mas nunca me esqueci o significado da pasta que trouxeste de Angola em 1982 contendo os meus poemas entre as duas malas que te restaram de património após uma vida a trabalhar para este Portugal na longínqua Angola.
A razão dessa decisão só mais tarde a percebi, pois antes de mim descobririas que nascera com o engenho e arte de saber sofrer, que nas trevas daquela África profunda, desafiando o Adamastor, daria ao meu nome mais outro apelido.
Este é o meu ultimo tributo a um homem que foi grande, e de tão grande se fez enorme no silencio da própria morte.
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