Acordo "hortográfico"
Sou
dos que nascendo no século passado nunca escrevi Pharmácia, mas não me importo
de “fexar” por aqui este assunto. Contudo, nunca obrigarei os especialistas linguísticos
a passarem o “vechame” de confundirem cor-de-rosa com cor de laranja, ou
começar o hino de Portugal com “Eróis do mar…”
***
DA COR DO CAJÚ
Na expressão contida de um
rosto negro
que por mim passa, seguro
o segredo,
vejo o Cruzeiro do Sul na
outra banda
Sagres emergida duma onda
que s’agiganta
Cinquenta centavos de
castanha de Cajú
a curva da Fortaleza na
pesca ao Baiacú,
uma tia abraçando-me com
força de mãe
minha avó tomando seu
lugar também,
campeonatos ganhos
desvalorizada a táctica
braços no ar em companhia
enigmática
nos intervalos das aulas
passados na cantina
co sonho amante investido
de menina
em sadias gargalhadas no
átrio do liceu
e tudo o que para trás
ficou de meu…
Vejo ‘miscigenação
invadindo a metrópole
num monumento que nada
deve à Acrópole,
altas serras sobressaindo
no deserto
planícies sem dono e eu
por cá tão perto
revivendo num quintal
eufóricas algazarras
duma vontade adolescente –
afiadas ‘garras,
soluços sentidos ao
anoitecer tapada a fome
num prato de alerta, aviso
que consome
com gritos calados contra
a opressão
à minha gente por gentes
da mesma nação!
E na expressão de negra
sem quitanda já calçada
vejo ainda um passado de
tudo ou nada
rio de lama que silencioso
desagua
no único mar que banhava a
minha rua
e de imparáveis lágrimas
se foi enchendo
a conta-gotas c’
enxurradas d’ incumprimento…
Nesse mesmo rosto ainda
negro de negra
vi sorrisos dum parto e
com surpresa
rugas, e um sofrer também
por mim
sob a boina distinta da
que perdera no capim,
o olhar protector, o colo
de aconchego
quando cedo dizia «mãe
tardo ou não chego!»
Cito Loio
18/4 a 13/5 de 2015
(19:51)
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