Por opção de pai
PO
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POR OPÇÃO DE PAI
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Não
partilhei tecto c’ madrasta séria ou puta
que
me pai deu douto cumprimento
ao
que um dia jurou em altar de casamento,
mas
cresci endiabrado a gestos de batuta
ouvindo
concertos de música latina
e
escravos ao som duma velha concertina.
Decifrei
no colo das criadas a honestidade,
feri-me
c’ beliscões e pontapés nas canelas
e
entre beijos roubados sob a luz das janelas,
indo
de xerife a índio por solidariedade
capitaneei
exércitos de bravos catraios
em
guerras contra filhos de sabidos lacaios.
Crescido
foi-se a juventude e com ironia
vivi
de tenra idade gravosa desilusão
ameaças
de quem venerava a ambição,
e
ao quebrar amarras que só eu via
calcei
botas, camuflado e negra boina
esquecendo
anedotas e a voda de estroina.
Atraiçoado
por uma revolta a termo
vesti
descrente uma outra farda
percebendo-lhe
igual tonalidade parda,
e
antes de baleado por um estafermo
devolvi
‘c’ dignidade ao depósito d’armamento
ferramentas
do meu descontentamento.
Para
descanso reservara nova vestimenta,
e
ao rolar caixotes na placa dum aeroporto
etiquetei
outros que não chegariam a bom porto
e
seus donos por lá não marcariam presença
que
a tempestade já anunciava a hora
do
destino mortal a quem não fosse embora.
De
labuta sem marcar ponto, dias a fio,
observava
a cama mantida desfeita,
e
no olhar de mãe reprovação de quem suspeita
haver
altura que claudicando, num arrepio,
concluiria
ser a partida aventura certa
e
a vida, numa jovem guerra, coisa incerta.
Finda
uma noite que se fazia noutro dia
passaporte
na mão 2 contos de sobrevivência
apenas
conhecendo lugar de procedência
fiz-me
ao destino, que desta me despedia
pisando
no chão projectada luz
sombras,
deixando antever a cor da cruz.
Ganhava
novo estatuto – finalmente órfão de avó!
-
Para trás ficavam duas campas de mãe
pagando
de bolso mais tarde a de pai também
mantido
segredo dum’outra que me deixara só,
e
versejando, dotado dum sorriso franco,
embelezei
estas rimas c’ letras do meu pranto.
Cito
Loio
28/4
a 24/5 de 2015