quinta-feira, março 13, 2014

fiXo pA fiXo....

 FIXO PARA FIXO


Caída a noite, rodava nervoso pela estação dos comboios da vilória, ultrapassado as 22 horas quase em namoro com o orelhão telefónico público, meio habitual de contacto quando se tratava de falar para números fixos dado que não dispunha de PT em casa. Apresentava-se mais nervos que o habitual à causa de ter tomado conhecimento que o seu amigo Charles Mandraque fora hospitalizado derivado a um AVC – não havia grande diferença de idades mas a razão do seu estado de espírito prendia-se, acima de tudo,por saber tratar-se duma óptima pessoa.
Nacho Escuriño sabia contudo que àquele telefone público não chegaria nenhuma chamada como acontecia no passado recente ; há muito que o fazia por pura rotina e talvez porque lera algures “haver razões que a razão desconhece” ou ser “o amor uma ferramenta para a traição” . Negava-se a compreender o sucedido, mas como a esperança era a penúltima coisa a morrer, lá se atormentava a cada noite passeando pela zona.

Na segunda passagem reparou num mendigo deitado no chão ao lado do telefone e apeteceu-lhe fazer o mesmo, conversar sobre a miséria que a riqueza conhecera-a tempos idos e distantes, mas estava um frio de rachar optando por continua a marcha. Deixou a memória regressara 2012, altura que sentiu idêntica sensação, derivado a uma mensagem recebida e conservada até àquele momento, mensagem enviada por Maria Patricia Cacuta, precisamente há 461 dias, datada de 5/12 14:36:45, e lida religiosamente1.382 vezes à média de 3 vezes por dia, ao acordar a meio da tarde e antes de adormecer como se tratasse dum antídoto contra a demência.

Tomou de novo o telemóvel nas mãos para a reler, pensando que seria a última que o faria comentando « um dia apago-a pois já não há espaço para tanta ferida». Fez uma pausa e voltou a falar;_ «é melhor ficar gravada, servir-me-á de aviso e recordação, e leu....

{- Difícil falarmos, as tuas condicionantes limitam a nossa comunicação. Baralha-me a conversa na estação com ruídos, por isso decidi escrever-te. Tenho pensado muito e resolvi ser firme. Sou tua amiga mas não gosto de certas atitudes que tens comigo. Novamente resolves vir aqui passar férias sem eu te ter convidado- Mas não quero que fiques em minha casa. Podes visitar-me quando quiseres, como amigo mas não gosto de ter em minha casa seja quem for. Lamento, mas as coisas tinham de ficar esclarecidas de uma vez por todos. Bjs }

Não sentiu nada;_ mais chaga menos chaga já pouco lhe importava e para lhe dizerem que não o queriam a dormir lá na mansão bastava uma frase simples - não te quero a dormir em minha casa – ponto final e seguia a banda. Olhou para o mostrador do aparelho – 11/3/2014, a noite estava fria e o céu completamente estrelado.


Inácio
11/3/2014

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