O DIA QUE LHE CHAMEI SACANA
DIA
QUE CHAMEI SACANA
A
DEUS
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Ao dependuro num galho deixou-se cair,
fez duas rodadas, soltou uma pirueta.
_ Mandei bugiar o raio do chimpanzé,
e entrado no bólide, pé na tábua, acelerei
vendo-me a abrir e abaixo Eixo Viário,
contornei pelo asfalto o largo Diogo Cão
seguindo-se a baía pela larga Marginal.
- Não escutei ‘trupe da magalada ‘carpir
que a guerra por ali era já uma treta
e sendo pouco sabia bem receber o pré;
_ no lugarejo a enxada ditava a lei,
fazia calos decidido trabalho ordinário
não dando para pagar ‘próxima prestação
da televisão adquirida no transacto Natal
Assim não vindo por aí mal ao mundo
nem sangue que sujasse ‘Terreiro do Paço,
mantinha a alta patente o vencimento
sem que o reles mancebo protestasse,
aumentasse no ocidente ditosa exigência
que Roma e Pavia não se fizeram num dia
e a bruxaria fraca para erguer uma vivenda.
- Absorto pelo trajecto escapou-se “sundo
esqueci comprar o raio do cabo de aço…
cheira-me que vai ocorrer linchamento
jantar de trombas, ressaídas rugas na face,
a velha a dizer é de perder a paciência
antes mandasse o criado à drogaria…
…passasses fome servia-te de emenda.
Calava-me por ser igual o amor ao respeito
a serenidade do rosto mais que conforto,
o olhar, quais centelhas de luz nas trevas,
o franzir testa paredão contra uma tempestade
e ‘cabelos longos lianas pa’nha salvação.
- Ameaçada que se cuidassem os agressores
que a ela, até um cão rafeiro a defenderia;
_ sem final à vista senti guinadas no peito
e só por jovem não caí por terra já morto.
- Dizia ‘carta entregue em mão – não escrevas
tua mãe descansa agora na perpetuidade
e adormecida deu paz ao seu frágil coração,
e não acordou – deixou-nos seus favores
a saudade, e uma bíblia que só ela lia.
Má sina esta! - Que inquietação infindável,
que utilização dar às riquezas mundanas!
_ pintava mais um quadro ‘tons de negrume
numa tela seca, que ‘lágrimas as vertera
nas noites que de calor silencioso estremecia
a cada travagem – vendo o mesmo funeral
incontadas vezes, ignorando o masoquismo.
- Seria aquela mais uma noite interminável
que me proporcionaria tempo ‘colher as canas
deixadas em planícies, visitadas mui amiúde,
e já acostumadas a quem nunca conhecera;
_ fazia-me órfão duas vezes, e não mentiria,
se dissesse, ser a dor de dimensão igual
a outras que me locaram à beira do abismo
Sentado no capô de um clássico Mercedes
tirei o azimute pela planície alentejana;
_ vi espigas aparentarem ser como o milho
avultando-se soberbas ao rasteiro tomatal
acariciadas pelo vento fustigando o rosto,
e secando o suor, sem contemplações
aniquilei u’ borboleta que não incomodava.
- Pelos arrabaldes ergueram-se altas paredes
e revoltado gritei – Deus és um sacana
que até deixaste crucificar teu próprio filho
e estiveste ausente no dia do primeiro natal.
- Tomando a dolência por duro encosto
conduzi estrada fora finda as contradições
que da pouca fé já coisa alguma restava.
Cito Loio
9-11/10/2015
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