sexta-feira, agosto 07, 2009
sábado, agosto 01, 2009
CARMO
Para quem estranhou a minha ausência, eis uma das justificações; a conclusão de um dos romances que iniciei em 2009, e que dei por concluído. Desconheço se alguma vez o publicarei, mas em última instância terei este meu espaço para compartilhar os meus mais profundos sentimentos reflectido neste e de outros romances já escritos e em fase de correcção |
|
“CARMO”
"uma persiana na janela"
.
Julho de 2009, estava sentado em casa e recebo uma chamada no Skype. _ Olá Índio» _ Olá linda» |
.
Era Mafalda – falara-lhe da história que me propusera escrever…
_ Pensei no livro e tu não consegues escrever essa história - vais encontrar conflitos raciais pelo caminho, situações incontroláveis, rejeições por parte da tua família»
_ Óó …Claro que vou…
_ Querido, custa-me dizer-to - mas vais magoar-te, vais sofrer - no fundo é uma história sobre a morte da tua mãe!
_ Vou escrevê-lo…a mãe é minha, “mato-a” as vezes que eu quiser
Naquele momento ela deveria ter escutado um grito de dor, uma revolta calada, um sentimento sofrido com mais de meio século, e calou-se.
Tinham-me matado a mãe de verdade, não pediram desculpa, nem apresentaram condolências – nunca investigaram as causas de uma morte, mesmo por Tétano; nunca fora aberto um inquérito e nunca constituíram arguidos…desabafei…
_ Vou pedir uma indemnização ao Governo Português por ter permitido que um “médicozeco”, a troco de uma vida, não quisesse que se soubesse que a parturiente fora infectada com a bactéria do tétano – foi só para protegerem a imagem daquela “loja de saúde”
_ Estás louco … indemnização!
Fez-se de silêncio, olhei para a cara dela – tinha o sobrolho franzido, os olhos acerados, os maxilares enrijecidos, mas não tinha tétano.
.
_ Não estou não; só quero um euro de indemnização
_ És louco e varrido!!!
_ Um pouco “misto”, na cor e na loucura»
_ O que estás para aí a dizer?
_ Um “euro” dentro de um envelope, acompanhado de uma nota de condolências
No momento em que encerrara a dor de uma morte prematura que me consumira durante cinquenta e cinco anos, julgara ouvir dizer da parte dela, que a “estrela deixara brilhar”…morrera.
Melhor do que ninguém, Mafalda sabia que eu tivera uma estrela que queria brilhante, e nunca chegara a conhecer…
.
Inácio Castelbranco
Publicada por Adolfo Oliveira 0 comentários