quarta-feira, setembro 23, 2015

Marcas,




AS
MARCAS DO
AMOR

(Quem não terei na minha morte)
 

Chove a potes inundam-se as largas alamedas,
alagam-se a ruas, parques, avenidas, quintais,
transbordam piscinas em lagoas artificiais
entopem-se esgotos tudo por excesso de água.
- As culturas em solos submergidos, a mágoa
atacando quem trabalha empobrecida a terra
do sopé, por valados e trilhos ao topo da serra.
- Chove a potes, submergem as largas alamedas,

Chove, e nada faz com que termine a chuva.
- Encorpa-se a ondulação revolve-se bravio mar
impedindo bravos pescadores saírem ‘pescar,
lançar redes, ganha-pão, o familiar sustento
a alegria dos filhos. – Assopra agreste o vento,
ensopado calcorreia emudecido, último lanço
do passeio da tristeza à porta do descanso,
e chove. - Morto o poeta deixa de sentir ‘chuva

Chove! _ Não seja por tal suspensa ‘festividade;
_ morreu apenas um poeta sabido ente inferior,
culpado de redacção do que nunca s’encomendou

Chove, e os passantes exteriorizam a vaidade
visitando campas. No cemitério, esquecida ‘dor
não reparam quem silenciosa sempre o amou.

(- Descalça a amante solta um grito de tremura;
_ nos pés marcas dum amor que há tanto dura…


Cito Loio
18 a 21/9/2015

domingo, setembro 06, 2015

FOSFOROS OU ISQUEIROS



FOSFOROS OU ISQUEIROS


Na qualidade de Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque afirmava em tempos no Chão da Lagoa, caso o PS vencesse as eleições seria como entregar a casa à guarda dum incendiário. Independente do vale tudo em campanha, creio, tal como milhares de portugueses que não votam neste partido, haver pessoas decentes e incapazes de pegar fogo seja ao que for.
Entendo ainda estar a maior parte dos eleitores do PS convictos que Costa será o melhor para Portugal, mesmo que eventualmente estejam enganados.
Particularmente não me identificando com o partido, respeito as opções ideológicas de cada um, apesar de não estar certo que os socialistas ganhem as eleições, e se um dia tal vier a acontecer, fatalmente nessa altura pouco restará de português para incendiar após o desmembrar do império e ao ritmo das actuais vendas.


Adolfo Castelbranco d’Oliveira


sexta-feira, setembro 04, 2015

IMAGEN QUE CHOCOU O MUNDO




Não me CHOCOU, antes ENTRISTECEU-ME,


Porque…mais me choca ver o aproveitamento mediático e político que se faz do próprio luto, saber ainda que há crianças nesses próprios países que nem sequer morrerão deitadas na orla duma praia às portas da Esperança porque os pais nem dinheiro têm para pagara viagens em navios de contrabandistas.

Choca-me ver a foto duma criança agonizante deitada na terra poeirenta com abutres à espera que morra para se lançarem sobre o seu cadáver, como me choca ver a foto duma criança comer a carne putrefacta duma caveira…

Choca-me saber que vendem armas para que a guerra não termine…e saber que as vozes erguidas contra esta barbárie vêem de quem depois de desligar a TV ou a página do Jornal vai ao restaurante mais fino da cidade mais cara do país mais interessado que a miséria continue até ao Juízo Final

Chocou-me saber de mulheres violadas por soldados provocarem abortos e atirarem os fetos ao rio onde se passeavam crocodilos.

Chocou-me estar sentado na esplanada da Kitanda em 1972 e escutar – da boca dum militar do Exército Português dizer – para que o grupo de combate não fosse denunciado no ataque à aldeia ter espetado a faca de mato num bebé

Muito mais há para lamentar entristecer ou ficarmos chocados e esta imagem não foi a primeira e infelizmente não será a última.

Inácio

UM BURRO A MONTE




UM BURRO A MONTE


Queria ilustrar este desabafo dorido, rasgar de peito, conter esta voz com que calo os erros e a má fortuna desta alma gentil apoquentada pela paixão dum sonho sem mácula onde verto a cada acorde de guitarra chorando o destino traçado à nascença, e só encontrei, que me satisfizesse, esta canção, fabulosa interpretação de Dulce Pontes ao lado do maestro do belo canto Andrea Bocelli
Espero que as palavras que «coloquei» em formato de verso não encharquem a arte «colocada» nas notas e palavras de ‘O Mare e Tu’, pretensão tida apenas por ti tendo engrossado o corpo ao mar salgando-o com o próprio pranto.
.
.
Rasavam o milheiral chilreantes pardais,
apresadas no bico espigas doiradas.
- Um homem recorda velhos Carnavais
desfiles de máscaras, sonoras batucadas,
rolar de bola com amigos no quintal
prendas, festas, verão nas noites de Natal.
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Chega-lhe o astro-rei no refulgir da aurora
amaciando um sábado de fraca missa;
_ descontada lazeira hesita ir-se embora,
fecha ‘persiana torna ‘querença submissa
e abrindo a porta faz-se ao passeio
que sexta-feira chegara o velho carteiro.
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Distanciado ‘tempo da loucura e da espera
sabe que o amor não cabe nos envelopes;
_ nas horas secos rios não se desespera
por abundarem outros e tão duros golpes.
- Recolhendo-se desliga o computador
e pisca da escrivaninha ‘olho a Nosso Senhor.
.
Súbito chamada sem número identificado,
alguém querendo não dar-se a conhecer,
e num encolher de ombros, relaxado,
permitindo-se por momentos enternecer
exclama, atirando o telemóvel pró sofá:
- «Venha quem for enquanto estiver por cá!»
.
Aligeirando-se a vinda do mês de Setembro
(servidos panachês na esplanada de praia
pires com tremoços) Jerónimo atento
à carta com remetente de Maria de Soslaya,
lê - «Procura quem te dê melhor sorte…
desta, que será amiga tua…até à morte…»
.
Entendendo no rosto expressão de desnorte,
Cenitas Pândego fixa Jerónimo Rosáceo
e diz - «Pelo menos não te desejou a morte
…já tem quinta e outro príncipe no palácio»
-«Verdade amigo, não sei que te conte
mas ‘burro, esse, ainda pisa por cá, a monte»
.
Mais uma rodada de finos com muita espuma
e gargalhadas, um bota abaixo vai macho,
marcava o relógio do balcão, ¼ para a uma…
altura propícia para desandar, ir ao tacho.
- Jerónimo sentira não estar só na infelicidade
repartida ‘desdita com alguém da sua idade.
.
A história repetia-se, mudara a personagem
diferentes homens, díspares os destinos
todos pela lei da natureza cá de passagem
santos, gente comum, criminosos e cretinos.
- Naquele 7º dia que tardariam a esquecer
Pândego e Rosáceo continuaram a beber…
.
Quem me ler que personagem foi da história?
- Certo não termina aqui este deslindado enredo
que outras fábulas as contarei e de memória
procurando, enquanto bater ’coração, sossego,
faltando versos para concluir este poema,
que farei, mesmo que alguém me roube o tema.
.
.
.
Cito Loio
 (De Agosto de 1975 a 2015 o ano da minha Paixão)

 
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